5.1 Introdução
Analisando as contribuições desses autores, Silva (2017b) indica que a for-mulação política e teórica da questão regional brasileira apresentou discordâncias, embora haja certo consenso na literatura de que, a partir de meados do século XX, as desigualdades regionais no país teriam se reforçado e ganhado a configuração atual, em decorrência do processo de industrialização desencadeado nos anos 1880, e se intensificado a partir dos anos 1930.(2020, p. 47)
5.2 Ruy Moreira
Segundo o autor, a emergência da industrialização em 1880 teria extinguido a correlação entre arranjos geoeconômicos e geobotânicos, culminando na divisão territorial do trabalho, especialmente a partir de 1950, quando se atinge a integração nacional e surge a diferenciação qualitativa na concentração industrial, gerando a centralização em São Paulo e o seu comando sobre o restante do país. Assim, a problemática das desigualdades regionais teria surgido a partir da diferenciação ocasionada pela concentração-centralização industrial e posteriormente financeira no Sul/Sudeste, especialmente em São Paulo.(2020, pp. 47–48)
Portanto, ao analisar o processo de ocupação socioespacial do Brasil, Moreira (2014, p. 63) aponta que “cada tempo histórico estabelece seus termos próprios de regionalização e relações inter-regionais”.(2020, p. 49)
5.3 Francisco de Oliveira
Na percepção de Francisco de Oliveira (2008, p. 149), a emergência da questão regional deve ser compreendida sob a ótica da divisão regional do trabalho, não sob o enfoque dos desequilíbrios regionais da formulação política e teórica de meados do século XX, em grande medida tributária das contribuições de Celso Furtado, que se baseou na analogia entre centro-periferia presente nas teorias cepalinas (Oliveira, 2006, p. 39).(2020, p. 49)
As contradições da reprodução do capital e das relações de produção em cada uma, ou, pelo menos, nas duas principais regiões do país, o Nordeste açucareiro/pecuário-algodoeiro e o Sudeste cafeeiro/industrial, começaram a aparecer como conflito entre as duas regiões, uma em crescimento, outra em estagnação. Foi nesse contexto que, sob a ótica das disparidades regionais, nasceu o planejamento regional para o Nordeste, que se tornou um modelo posteriormente expandido para outras regiões e uma leitura tradicional da questão regional brasileira, como destaca Oliveira (2008, p. 163). (2020, p. 50)
5.4 Celso Furtado
Na leitura de Furtado, exposta na obra Formação econômica do Brasil (Furtado, 2007, p. 71), do ponto de vista de sua estrutura econômica, o Brasil da metade do século XIX não diferia muito do que fora nos três séculos anteriores. Teria sido justamente a expansão cafeeira realizada a partir desse momento que teria propiciado as modificações na base do sistema econômico, em uma transição econômica que, em conjunto com a transição política ocorrida na primeira metade do século XX, encerrou definitivamente a etapa colonial.(2020, p. 51)
Contudo, a decadência econômica e o atraso estrutural de algumas regiões brasileiras seriam anteriores à plena articulação do mercado nacional em torno do Sul/Sudeste industrializado, a exemplo do Nordeste, no qual o atraso relativo não repousa apenas na região semiárida, uma vez que a zona da mata e o agreste também apresentariam atividades econômicas de baixa produtividade, subutilização de terras, insuficiente produção de alimentos, baixa cobertura de serviços públicos essenciais e elevados níveis de pobreza, de desemprego e de subemprego (Furtado, 2009a, p. 175; 2009b, p. 76; 2014, p. 232).(2020, p. 51)
Conforme assinala Lima (2009, p. 264), para Celso Furtado o Nordeste é uma região periférica, satélite dos interesses políticos e econômicos dominantes no país, exercendo determinados papéis em um quadro geral de dependência dentro da dependência. Pensando em termos de estruturas, a heterogeneidade regional do Brasil em meados do século XX formava uma constelação de formas de subdesenvolvimento gerada no âmbito de um processo histórico, argumenta Furtado (Menezes e Salmito Filho, 2009, p. 268). Tal constelação de regiões de distintos níveis de desenvolvimento, com uma grande heterogeneidade social e graves problemas sociais, mantém-se até os dias atuais, afirma o economista (IBGE, 2003, p. 11).(2020, p. 52)
5.5 Wilson Cano
Na interpretação de Cano (2002, p. 126), a conscientização política e teórica da questão regional brasileira ocorreu por volta da década de 1950, embora o regionalismo tenha se manifestado nos séculos anteriores, sobretudo nos movimentos revolucionários do século XIX. O agravamento das secas no Nordeste desde fins do século XIX, as disparidades regionais de renda verificadas nas contas regionais de 1951 e 1952 e a concentração de investimentos do Plano de Metas em São Paulo – localizada na região Sul naquela época – contribuíram para o desencadeamento de pressões políticas por parte das demais regiões, que reivindicavam tratamento prioritário para o desenvolvimento (op. cit., p. 127).(2020, p. 53)
Portanto, para Cano (2007, p. 313; 2008, p. 15), propostas que visam apenas levar mais recursos às regiões periféricas ou que conclamam maior alocação de indústrias na periferia não consideram a totalidade do problema e não resolverão os desequilíbrios regionais e as necessidades da população. É necessário questio-nar as causas estruturais regionais que perpetuam um quadro social com índices deploráveis de pobreza, como o tabu ideológico que reveste o enfrentamento local de suas estruturas de dominação de renda, propriedade, controle político, acesso ao Estado etc. (Cano, 2008, p. 18)(2020, p. 54)
6 Resumo
Este capítulo irá apresentar uma série de autores clássicos que moldaram o pensamento regionalista no país. O principal marco entre os autores é o debate sobre as origens, causas e permanencia das desigualdades entre as regiões brasileiras.
Ruy Moreira irá afirmar que existe uma marcação historica dos termos e propósitos do estado na questão regional com rupturas e reorganizações. Francisco de Oliveira, por sua vez, irá buscar analisar a quetão pela ótica do trabalho, observando que os modos produtivos de cada época e região irão afetar suas politicas publicas regionais. Nota ainda que será apartir das questões economicas dos setores da elite sudestina e nordestina que irão promover a desigualdade entre as regiões no século XX.
Celso Furtado será um dos princiapis expoente do pensamento regional brasileiro e será o criador de duas concepções importantissimas para futuros debates do tema. Em primeiro lugar inaugura a dicotomia centro-periferia, ele iria notar que as desigualdades regionais não se limitam a fatores economicos ou geograficos, mas também de acesso a bem e serviços do estado e da economia como um todo. A segunda é a interpretação do fenonemo do subdesenvolvimento, a condição de atraso no projeto positivo de crescimento que marca as regiões mais perifericas. Suas concepções são uteis até hoje pois evidenciam aquilo que é central no modelo de politicas regionais, o enfrentamento da pobreza e da fome face a um pais que é rico em diversos aspectos, pais desafios se fazem presentes até os dias atuais.
Os autores do livro citam por fim Wilson Cano, que tem uma perspectiva menos estrutural que Furtado e acredita em uma desigualdade que emergente do processo de desenvolvimento desigual das regiões brasileiras. Nesse sentido, advoga por uma mudança estrutural de estratégia que visa não a busca de uma homogenização do desenvolvimento nacional, mas uma valorização dos aspectos especificos de cada região.